Adélia Prado nasceu em Divinópolis, Minas Gerais, no dia 13 de dezembro de 1935. Formou-se professora, cursou Filosofia na faculdade junto com seu marido José Assunção de Freitas e exerceu o magistério durante 24 anos, até descobrir-se escritora. Em 1973, por meio do crítico literário Affonso Romano de Sant'Anna, Carlos Drummond de Andrade, apreciou os poemas de Adélia e em 1975, o mesmo sugeriu a Pedro Paulo de Sena Madureira, da Editora Imago, que publicasse o livro de Adélia. O livro foi publicado no Rio de Janeiro em 1976 e teve como título "Bagagem".

Seu texto, "Com licença poética", é uma paródia do Poema de "Sete Faces" de Carlos Drummond de Andrade. Logo no primeiro verso, pode-se perceber a diferenciação. O "anjo torto" que vive na sombra, se torna um "anjo esbelto" que toca trombeta, anunciando um grande fardo para a mulher, ao contrário do anjo torto, que diz para ele seguir o caminho "gauche", palavra francesa que significa aquilo que não é direito, o esquerdo, logo, torto. No terceiro verso da paródia, Adélia expressa que o peso de fazer poesia diante da existência de um poeta brasileiro, tal como Manuel Bandeira, sendo do sexo feminino, é realmente difícil.

Durante o texto, Adélia se diz conformada com os pretextos que foram encarregados à mulher, como ser mãe, do lar, esposa, sem precisar mentir ou esconder isso. Com isso, ela aborda questões ligadas à mulher como o medo de não conseguir casar-se, a dor do parto. Logo ela revela que escreve o que sente, declara que a dor não é amargura, onde passa a ideia de que a mulher já sofreu muito, mas esse sofrimento, essa dor, não se transformou em amargura e sim, em poesia.

Ao final do texto, Adélia mostra não aceitar o destino torto que o homem da para a mulher. A mulher é desdobrável, pode fazer o que qualquer homem faz.